[…]
“O rio Pará e o rio Murucupi estão contaminados, as águas não prestam mais, não servem mais pra nada. A palavra Murucupi significa braços tortuosos, agora nem sei mas o que significa”... Técnicos do Instituto Evandro Chagas, do Ministério da Saúde, apresentaram hoje (22) laudo comprovando que um depósito de resíduos da empresa mineradora Hydro Alunorte*, localizado em Barcarena, região metropolitana de Belém (PA), transbordou no último fim de semana, despejando uma quantidade ainda incerta de efluentes tóxicos no meio ambiente. […] Análise de amostras do material colhidas no local aponta a presença de níveis elevados de chumbo, alumínio, sódio e outras substâncias prejudiciais à saúde humana e animal […] O vazamento de rejeitos não inaugura no país um problema desconhecido, ao contrário expõe o grave problema mineral que existe no Brasil, onde empresas como a Hydro Alunorte se beneficiam de isenção e incentivos fiscais, baixo pagamento da CFEM (Compensação Financeira pela Exploração de Recursos Minerais) e relação promíscua com órgãos públicos [...]
* A Hydro Alunorte é uma mineradora norueguesa com atuação na cidade de Barcarena (PA) – 34% do capital desta empresa pertencem ao Estado norueguês. É a maior do mundo no ramo de processamento de bauxita para alumínio. Segundo os dados da própria empresa, 86% da sua produção são destinados à exportação.
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https://mamnacional.org.br/2018/03/02/1551/
https://www.iec.gov.br/wp-content/uploads/2018/02/23fevereiro2018_terra_noticias.pdf
https://www.brasildefato.com.br/2020/02/22/moradora-de-barcarena-pa-tenho-medo-de-morrer-subterrada
[…]
Um navio que transportava carga de cinco mil bois vivos afundou na manhã desta terça-feira (6) no cais do porto de Vila do Conde. Centenas de bois mortos estão sendo levados pelas águas do rio Pará para as margens da praia de Vila do Conde, onde estão ficando encalhados na areia. Máscaras respiratórias estão sendo distribuídas para a população para evitar contaminação, a barreira de contenção que isolava a área do naufrágio rompeu-se na noite do domingo (11), causando um forte mau cheiro por conta da decomposição dos animais e do óleo que se espalhou pelas águas. O banho nas águas foi proibido e o movimento de frequentadores das praias de Barcarena, Abaetetuba e ilhas vizinhas caiu. Pescadores também não puderam mais retirar o sustento dos rios [...] “Nós vivemos da praia. É daqui que sai comida, bebida, água, pão, tudo. Essas empresas vêm pra cá, derramam as coisas e quem paga o pato somos nós. Quem vai botar comida na minha mesa se não posso mais pescar? Quem vai sustentar os filhos da Dona Maria se ela não tem mais freguês na barraca com a praia fechada?”
[...] Em 15 anos, o rebanho bovino na Região Norte cresceu 22%, a maior taxa entre todas as regiões do Brasil [...] 80% do desmatamento na região amazônica é em decorrência da atividade de pecuária [...] está se produzindo carne onde antes era floresta [...]
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http://g1.globo.com/pa/para/noticia/2015/10/embarcacao-afunda-e-bois-tentam-escapar-de-naufragio-em-barcarena.html
http://g1.globo.com/pa/para/noticia/2015/10/moradores-de-barcarena-fazem-manifestacao-em-frente-cdp.html
https://g1.globo.com/pa/para/noticia/naufragio-de-navio-com-cinco-mil-bois-vivos-em-barcarena-completa-dois-anos.ghtml
https://infoamazonia.org/pt/projects/portugues-mapa-do-gado-na-amazonia/
https://www.brasildefato.com.br/2019/09/05/pecuaria-e-responsavel-por-80-do-desmatamento-na-amazonia-afirma-pesquisadora
[…]
Já faz seis anos que a quarta maior usina hidrelétrica do mundo, a UHE de Belo Monte, entrou em operação. A maior obra de um governo democrático, planejada na ditadura civil-militar (1964-1985). Foram mais de três décadas de luta pelos direitos dos povos amazônicos. O que a mobilização indígena e a pressão internacional foram capazes de impedir nos anos 1980, não se repetiu nos anos 2010. As ameaças se sofisticaram, neoliberalismo e a exploração do trabalhador corroboraram o fortalecimento do projeto desenvolvimentista na região. Violações de direitos humanos e a produção de desigualdades foram sua principal marca, além da alteração da paisagem.
A Volta Grande do Xingu, onde vivem indígenas Arara, Juruna, povos ribeirinhos, extrativistas, garimpeiros artesanais, pescadores, foi a região mais impactada pela construção da usina, tendo a vazão do rio reduzida para a construção do reservatório... “os igarapés viraram chão, as roças estão pálidas, os animais morrem aos montes, as famílias que se sustentam da vida gerada pelo rio se empobrecem”... a população de Altamira aumentou de 99 mil para 145 mil habitantes… indígenas em situação de pobreza se multiplicaram pelas ruas da cidade... vinte mil pessoas perderam suas casas na parte mais baixa da cidade, “domingo à noite a água foi subindo, subindo, até que segunda-feira tava tudo embaixo d’água, barraram lá e aí alagou tudo na Ilha do Muruci.”
Enquanto se discute se a vida do rio Xingu vai sobreviver… A mineradora canadense Belo Sun Mining Co. vem realizando transações e acordos de compra de terra questionados na Justiça. A empresa teve sua Licença de Instalação suspensa pela Justiça Federal em 2017, em razão da ausência de estudos do componente indígena no Estudo de Impacto Ambiental e do processo de Consulta Livre Prévia e Informada aos povos indígenas e ribeirinhos atingidos. A empresa aguarda resposta da Fundação Nacional do Índio e da Secretaria Estadual de Meio Ambiente do Pará para prosseguir com o processo de licenciamento...
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https://repositorio.ufsc.br/bitstream/handle/123456789/135654/335074.pdf?sequence=1>
https://reporterbrasil.org.br/wp-content/uploads/2017/11/as_veias_abertas_da_volta_grande_do_Xingu-1.pdf
http://www.mpf.mp.br/pa/sala-de-imprensa/noticias-pa/trf1-suspende-licenca-de-instalacao-da-mineradora-canadense-belo-sun-no-xingu
https://acervo.racismoambiental.net.br/2014/04/15/abaixo-da-barragem-1-zila-kayapo-e-a-enchente-na-volta-grande-do-xingu/

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[…]
Na mesma semana em que a população recorda dois anos do massacre de Pau D´arco, em que 10 trabalhadores rurais foram mortos na região sudeste do Pará, em Belém (PA), a periferia chora a morte de mais 11 pessoas. Sete pessoas encapuzadas entraram no bar atirando. Oito pessoas já foram identificadas e estão diretamente envolvidas no crime. Sete já estão presas, a maioria é de policiais [...] A última chacina registrada na Região Metropolitana de Belém havia ocorrido em 1º de janeiro, quando 5 pessoas foram mortas no bairro da Cremação por homens encapuzados que chegaram em dois carros. Em 2018, houve duas. Em abril, nove pessoas foram mortas em Belém e Ananindeua. Em outubro, oito foram assassinados no bairro do Tapanã, na capital. [...] no mesmo ano, a ONG Seguridad, Justicia y Paz classificou a cidade como a 10ª mais violenta do mundo. A maior onda de assassinatos ocorrida no estado foi em janeiro de 2017, quando 28 pessoas foram mortas num intervalo de 24 horas [...] Hoje, é normal andar pela cidade e ver corpos pelo chão [...] “Na rua exala o medo, dinheiro corre na mala. Estado desgovernado e manda quem tem mais bala. História com mesmo enredo, foi tiro de carro prata […] banquete para os coronéis, pro povo água e ração, veneno pros igarapés, pros gringos mais de um milhão. É farra pros fazendeiros, velório pro camponês. A mídia metendo bronca, a barra pesa outra vez […] pimenta no cú dos outros é record de audiência, mata preto prende pobre e estimula a violência. As cartas estão sobre a mesa...” é normal andar pela cidade e ver corpos pelo chão [...]
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https://pt.slideshare.net/fabriciorocha/relatrio-final-da-cpi-das-milcias-belmpar-20142015
https://www.brasildefato.com.br/2019/05/28/caminhada-na-guama-homenageia-11-vitimas-de-chacina-em-belem-pa
https://www.bbc.com/portuguese/brasil-46146236
https://www.youtube.com/watch?v=cuudNR79g-A
https://g1.globo.com/pa/para/noticia/2019/05/19/tiroteio-em-bar-deixa-mortos-em-belem.ghtml



[…]
Morto com um tiro na nuca, Fernando era o sobrevivente com depoimento mais rico em detalhes sobre a chacina de Pau D´arco, que resultou na morte de 10 trabalhadores rurais – nove homens e uma mulher – durante ação policial na Fazenda Santa Lúcia… Fernando era uma das principais testemunhas do Massacre e já havia sofrido ameaças. “Eu sinto que tá vindo coisa pesada pra nós aqui… Os policiais estão pensando em vir aqui dar um jeito de não haver mais testemunha antes do julgamento. Não há testemunha, não há julgamento” […] os primeiros depoimentos prestados deixaram claro que ali não houve nenhuma possibilidade de reação dos trabalhadores… quem teve alguma chance correu e sobreviveu […] “numa troca de tiro, você não vê ninguém do outro lado ferido? Uma viatura? Tiro à queima-roupa? Tiro na cara?!” […] O que conseguimos apurar é que isso foi na verdade um consórcio de latifundiários, de grileiros, que contrataram esses policiais pra executar essa ação, pra que ela sirva de exemplo pra todas as outras ocupações da região […] “a mesma polícia que foi bater em gente nossa na Cipó, no assentamento da Liga dos Camponeses Pobres, foi a mesma polícia que fez o massacre agora na Santa Lúcia” […] tramita na Justiça do Pará uma ação movida pelo proprietário da fazenda, Honorato Babinski Filho, que busca remover os ocupantes da área […] o filho do Honorato esteve no velório, com duas pessoas estranhas, que fotografaram parentes das vítimas… “tirou foto do meu filho, do filho do Antônio, depois saiu comentando, 'vamo tomar cerveja que o serviço já tá feito' […] isso pra mim é ameaça […] a realidade da impunidade permanece, e a sensação de medo nas famílias é muito constante, devido essa aliança do latifúndio, com a polícia, e desse estado latifundiário que vivemos...”
Os 16 policiais civis e militares que são réus pelo homicídio estão soltos e exercendo suas atividades enquanto aguardam julgamento. Apenas uma pessoa ligada ao caso está presa: o advogado das vítimas e do assentamento onde ocorreu a chacina, José Vargas Júnior. Mais de vinte organizações de direitos humanos denunciaram a prisão e manifestaram apoio público à Vargas.
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https://iela.ufsc.br/video/o-massacre-de-pau-darco
https://terradedireitos.org.br/noticias/noticias/assassinato-do-sobrevivente-do-massacre-de-pau-darco-deve-ter-investigacao-celere-aponta-comite/23534
https://reporterbrasil.org.br/2021/02/testemunha-da-chacina-de-pau-darco-relatou-ameacas-da-policia-antes-de-ser-assassinado-2/
https://www.cut.org.br/noticias/trabalhador-sobrevivente-do-massacre-de-pau-d-arco-e-executado-a-tiros-no-para-afb2




[...]
As terras dos Guajajaras são vigiadas e protegidas pelos Guardiões da Floresta desde 2016 — papel que caberia ao Estado brasileiro. Atualmente, cerca de 17 grupos de guardiões monitoram as terras indígenas maranhenses munidos de caminhonetes 4×4, quadriciclos, drones, aparelhos de GPS, espingardas, e arcos e flechas. “Em 2015, a minha cabeça tava valendo pros madeireiros R$ 60 mil”, relata o cacique da aldeia Maçaranduba, Antônio Wilson Guajajara. O clima de tensão vem se mantendo alto, e a morte do guardião da floresta Paulino Guajajara ainda não foi esclarecida. Os Ka`apor também cansaram de esperar pela ajuda do Estado e decidiram romper com a sociedade dos karaís. “Autonomia é ficar só. É não depender de ninguém, é se virar”. Desde 2013 eles colocam a própria vida em risco para expulsar madeireiros do território. “A morte da floresta é a morte de nosso povo”. A língua foi a base de um novo sistema de educação. No conselho as decisões são tomadas de maneira coletiva, em contraste com os caciques que tomavam as decisões de maneira unilateral. “Somos o jabuti e o governo, a anta, não podemos ficar parados” […] eles seguem a trilha dos invasores, tomam seus equipamentos, queimam seus veículos e expulsam os madeireiros […] Em seis lanchas, dezenas de Munduruku armados com flechas e espingardas de caça saíram em expedição para expulsar garimpeiros de suas terras, “viemos nós mulheres com bebês de colo, os caciques e os guerreiros, e avisamos para se retirarem todos os pariwats [...] Isso é muito perigoso para nós. Se acontecer alguma coisa com nós… responsabilizamos o Estado e seus órgãos que não fazem nada [...] decretamos que não vamos esperar mais pelo governo. Decidimos fazer a autodemarcação, queremos que o governo respeite o nosso trabalho, respeite nossos antepassados, respeite nossa cultura, respeite nossa vida” […] Cacique Dadá, vigilante da terra Indígena Maró está jurado de morte por defender seu povo e o direito da floresta permanecer em pé… “isso vem ocorrendo fundamentalmente pelas madeiras nobres, como o Ipê Roxo, o Jatobá, a Maçaranduba e o Jacarandá, na Europa o valor por cada m³ passa fácil dos 7 mil reais.”
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https://www.bbc.com/portuguese/noticias/2009/07/090730_amazonia_borari_pc_ac
https://amazoniareal.com.br/tag/dada-borari/
https://reporterbrasil.org.br/2015/07/quem-pode-dizer-que-eles-nao-sao-indios/
https://brasil.elpais.com/brasil/2019/06/06/actualidad/1559816628_912175.html
https://www.normasbrasil.com.br/norma/despacho-107-2011_73020.html
https://autodemarcacaonotapajos.wordpress.com/2015/05/04/essa-e-a-razao-da-nossa-luta-por-territorio/
https://terrasindigenas.org.br/pt-br/noticia/149712
https://movimentoiperegayu.wordpress.com/2018/04/03/3o-comunicado-das-mulheres-munduruku-sobre-a-fiscalizacao-contra-garimpo/
https://cimi.org.br/2019/07/povo-munduruku-expulsa-madeireiros-territorio-durante-autodemarcacao/
https://reporterbrasil.org.br/2018/01/indigenas-do-maranhao-buscam-romper-com-o-resto-da-sociedade/
https://infoamazonia.org/2015/05/19/grupo-indigena-kaapor-tomba-arvore-tomba-indio/
https://acervo.socioambiental.org/index.php/acervo/noticias/povo-kaapor-denuncia-invasao-de-madeireiros-nas-terras-indigenas-do-maranhao







[…]
Em 97 foi criado em Nova Ipixuna o primeiro Projeto de Assentamento Extrativista […] tinha uma cobertura vegetal de 85% de floresta nativa, hoje com a chegada das madeireiras resta apenas 20%, “é um desastre pra quem vive do extrativismo como eu que sou castanheiro desde os 7 anos de idade... vivo da floresta, protejo ela de todo jeito, por isso eu vivo com a bala na cabeça a qualquer hora… a mesma coisa que fizeram com Chico Mendes no Acre querem fazer comigo”. Em 1999, Zé Cláudio e Maria integraram uma comitiva que partiu de Nova Ipixuna em direção a Xapuri, no Acre, para aprender diretamente com as experiências da/os seringueira/os. A "semente" ideológica de Chico Mendes germinou materializada através do agroextrativismo, do uso sustentável da floresta como um bem coletivo... uma resposta às privatizações, os cercamentos, e a alienação do trabalho. “Eu produzo óleo de castanha, manteiga de cupuaçu, faço artesanato em cipó e em madeira, agora eu aproveito as madeiras que a natureza põe no chão pra mim, e no lugar daquela que caiu eu ponho outra… a floresta tem que ser preservada de qualquer maneira, porque tudo na floresta é rentável […] ela é viável em pé! […] O alvo deles é a castanheira … Eles compram uma árvore aqui por 200 reais, e quando ela dá menos, ela vai dar ai seus 20 mil reais, só que a madeira tá acabando mesmo, daqui mais uns anos não vai ter madeira e o que que eles ‘tão fazendo? ‘Tão concentrando terra aqui dentro do projeto de assentamento. O que não pode … aí eu vou pra cima, né. Eu denuncio. Eles sentam, lá no sindicato deles, discutem: - “ah, nós temos que matar fulano” E aí, eles pegam, fazem a vaquinha, né, e contratam quem eles querem para mandar fazer o serviço […] o projeto está sendo saqueado a cada momento. A biodiversidade está desaparecendo … Então tem que ficar alguma coisa escrita … tudo o que eu falo, e qualquer coisa que eu escreva, tem lágrima. Eu acho que a tinta, quando eu tô escrevendo uma coisa, ela é borrada pelas lágrimas...”
* José Cláudio Ribeiro da Silva e sua esposa Maria do Espírito Santo da Silva foram mortos em 24 de maio de 2011, emboscados por indivíduos desconhecidos perto de sua residência, alvejados repetidas vezes…
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https://www.youtube.com/watch?v=OSS2ALiU1ss
https://www.youtube.com/watch?v=HYcY5erxTYs
https://www.youtube.com/watch?v=7TLjazh2vWU
https://estudogeral.sib.uc.pt/handle/10316/29762
https://www.frontlinedefenders.org/pt/case/case-history-jos%C3%A9-cl%C3%A1udio-ribeiro-da-silva




[…]
As águas do Madeira invadiram a BR-364, a única ligação rodoviária do Acre com o restante do país. Em Porto Velho, o Madeira está acima dos 19 metros, o maior nível desde 1982. A  Defesa Civil de Rondônia estima que a BR-364 estará tomada pelas águas até o fim de março, postos da cidade de Rio Branco colocaram cones em frente às bombas, sinalizando que não há gasolina, diesel ou etanol. [...] “O nosso estoque de hortifrúti é para no máximo três dias. Nos outros produtos, como arroz, feijão, trigo também já há uma redução de estoque, com previsão de durar no máximo mais 20 dias. Já enfrentamos dificuldades para fazer a reposição nas prateleiras” [...] O governador do Acre procurou o ministro da Agricultura para tratar da importação de alimentos do Peru [...] o Núcleo de Apoio à População Ribeirinha da Amazônia (Napra), do Movimento dos Atingidos por Barragens, afirma em nota que a inundação do Rio Madeira foi intensificada após ilegal e descompassado aumento dos reservatórios de água das usinas hidrelétricas de Jirau e Santo Antônio ao juntarem-se com a época de chuva que recai sobre a região, dando incisiva causa ao alagamento que se estende de Guajará-Mirim à Calama [...] “foi um grave erro a construção das duas represas, uma perto da outra, “em um rio enorme”, como é o Madeira, que recebe as águas do caudaloso Mamoré, do Rio Beni e, mais ao norte, do Abuná [...] a realidade é preocupante, pois diante do descontrole a opção brasileira é evitar as inundações em Porto Velho, em detrimento das planícies amazônicas bolivianas, e deixar que os rios “mudem de leito”, que as águas retrocedam e inundem grande parte de Beni” [...] os prejuízos estão relacionados com a grande diminuição da pesca, a perda de espécies que “sobem” do Atlântico aos olhos d’água, a inundação na área onde cresce a castanha amazônica e, até agora, a morte de mais de cem mil cabeças de gado do rebanho de Beni e os cerca de 200.000 desabrigados [...] O presidente Evo Morales ordenou uma investigação que permita estabelecer se as graves inundações têm relação com as represas brasileiras.
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https://www.bbc.com/portuguese/noticias/2014/03/140313_acre_isolamento_pai
http://amazonia.org.br/2014/03/mab-cheia-do-rio-madeira-%C3%A9-intensificada-por-hidrel%C3%A9tricas/
http://amazonia.org.br/2014/03/brasil-e-bol%c3%advia-dispostos-a-reavaliar-os-efeitos-das-inunda%c3%a7%c3%b5es-nas-duas-represas/
http://amazonia.org.br/2014/03/acre-vai-importar-alimentos-do-peru/
[…]
O cacique Emyra Wajãpi foi atacado enquanto voltava da casa da filha. O corpo foi encontrado dentro de um rio. Ele foi esfaqueado, teve os olhos perfurados e o órgão genital decepado. A primeira notícia dizia que foi assassinado por um grupo de garimpeiros que invadiu a Terra Indígena Wajãpi, no município de Pedra Branca do Amapari [...] A Fundação Nacional do Índio confirmou a morte, mas tratou a ação dos garimpeiros como “suposta invasão à Terra Indígena”. O presidente da República pôs em dúvida a existência de conflito [...] o Poder Executivo iniciou a discussão sobre o envio ao Congresso Nacional do Projeto de Lei 191, que regulamenta o § 1º do art. 176 e o § 3º do art. 231 da Constituição, para estabelecer as condições específicas para a realização da pesquisa e da lavra de recursos minerais, inclusive a atividade garimpeira, de extração de hidrocarbonetos, e de aproveitamento de recursos hídricos para geração de energia elétrica em Terras Indígenas […] nos municípios de Itaituba e Trairão, no Pará, o povo Munduruku já está sofrendo com o impacto do mercúrio usado largamente em atividade de garimpo [...] os peixes, principal fonte de proteína das comunidades, estão contaminados. Um estudo realizado pela Fiocruz indica que de cada dez indígenas, seis apresentaram níveis de mercúrio acima de limites seguros, “a atividade garimpeira vem promovendo alterações de grande escala no uso do solo nos territórios tradicionais da Amazônia, com impactos socioambientais diretos e indiretos para as populações locais, incluindo prejuízos à segurança alimentar” [...] O mais assustador é a constatação de que a invasão garimpeira se dá nos mesmos moldes daquela invasão ocorrida, em massa, no final da década de 1980 e início de 1990 que vitimou através de armas de fogo e de epidemias aproximadamente 2.000 Yanomamis. Os garimpeiros dentro da terra Yanomami já chegam em torno de 1.500 pessoas.
[...] O decreto legislativo aprovado na semana passada pelo Congresso Nacional que autoriza a reabertura do garimpo de Serra Pelada (PA) gerou tensão entre grupos rivais de garimpeiros pelo direito à exploração de cem hectares da área. Há risco iminente de conflito, diz a polícia.
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https://amazoniareal.com.br/gente-estranha-tirou-a-vida-do-meu-pai-diz-aikyry-wajapi/
http://emdefesadosterritorios.org/mineracao-em-terra-indigena-projeto-de-lei-191-2020/
https://portal.fiocruz.br/noticia/estudo-analisa-contaminacao-por-mercurio-entre-o-povo-indigena-munduruku
http://www.hutukara.org/index.php/noticias/garimpo-ilegal-documentos/182-o-garimpo-volta-a-ameacar-o-povo-yanomami
https://www1.folha.uol.com.br/fsp/brasil/fc2709200204.htm

Amazônia, Ano Zero não oferece um ponto de chegada, é antes uma encruzilhada geopoliticamente situada. Arranjo sob bases dissonantes que sinaliza ao leitor outros caminhos possíveis a seguir. Colcha de retalhos na qual cada fragmento busca movimentar desejo, crítica, e ação. Resultado de um exercício de des_montagem a partir de materiais de arquivo - do corte, da colagem, e do remix de registros públicos sobrepostos a rastros visuais íntimos de trajetórias passadas - Amazônia, Ano Zero disponibiliza para download [via torrent], e uso não-comercial [via Creative Commons], a totalidade dos vídeos utilizados em sua composição, bem como deixa a vista todos os links que dão acesso aos conteúdos completos de onde partes foram apropriadas no seu fazer. É importante que fique dito com nitidez, a exceção destas linhas, e do texto que trata do caso da UHE de Belo Monte, escrito por Flavia do Amaral Vieira, os conteúdos textuais apresentados em Amazônia, Ano Zero, resultam de um trabalho de citação - para utilizar os termos de Antoine Compagnon - sinalizar as fontes por meio de links foi o modo escolhido de presentificar nossas escolhas metodológicas, de oferecer autonomia ao leitor na busca por caminhos próprios, e sobretudo de respeitar autores – e entidades - que nos serviram - e servem - de referência. Por tudo isso, Amazônia, Ano Zero parece se apresentar como uma espécie de agente-intermediário, e acaba por se constituir como esse lugar de passagem, ponte tanto para os que vieram antes quanto para os que virão depois. Cheia de reticências e de imagens transitórias, assume uma materialidade – uma sintaxe e uma semântica – que reflete as próprias dinâmicas do território de onde emerge, desse ecossistema amazônico que Alfredo Wagner vai caracterizar como sendo produto, e processo, “de relações sociais e antagonismos [...] de lutas em torno do controle do patrimônio genético, do uso de tecnologias e das formas de conhecimento e de apropriação dos recursos naturais”. É portanto uma Amazônia em disputa, em permanente estado de vir-a-ser, defendida por uns e ameaçada por outros, em plena era de supressão da paisagem, que esta public_ação pretende, de alguma maneira, re_tratar. /// Hugo do Nascimento, 2021
NOTAS PARA ENTRAR E SAIR DESTA PUBLICAÇÃO
METADADOS

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Estamos na Amazônia Brasileira, envoltos na maior província mineral do planeta, seguramente área de maior concentração do capital natural (floresta, água, minério e biodiversidade) e de populações tradicionais, para o grande capital não passa de uma fronteira de expansão. São 110 milhões de toneladas de minério de ferro extraídas da Floresta Nacional de Carajás por ano. Segundo propagandeia a Vale, foi com esse metal que se ergueu mais da metade de Xangai, na China – o principal importador de minério. E a companhia pretende dobrar a produção em quatro anos: em junho deste ano, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) concedeu a licença prévia para o “maior projeto da história da Vale”, a mina S11D, com investimento de US$ 19,4 bilhões entre abertura de mina e obras de logística para escoar a produção. Cerca de 17 mil trabalhadores ocupavam o canteiro de obras do mais novo projeto da Vale, o S11D, em Canaã dos Carajás. Com o término da obra, menos da metade dos trabalhadores foi contratada. O restante ficou na cidade sem perspectiva de trabalho. “Ali ao redor do S11D era uma área de assentamentos da década de 80/ 90 que a Vale foi readquirindo, concentrando terras ao redor do projeto. A Vale, ela foi grilando essas terras, comprando de novo de pequenos agricultores e fazendo toda uma estratégia para que esses agricultores vendessem as terras pra ela”. O despejo que deveria acontecer apenas na área da Fazenda Santo Antônio, onde os lotes foram comprados ilegalmente pelo fazendeiro Evandro de Deus Vieira, acabou se estendendo para o assentamento do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) […] famílias foram despejadas de forma violenta em agosto de 2011. As terras desocupadas foram compradas de forma ilegal e anexadas à fazenda Santo Antônio, posteriormente vendidas também de forma ilegal para a Vale. “Os movimentos ocuparam essas terras. Ocuparam os territórios da VALE, era a estratégia jurídica. Aí começa uma batalha judicial.”
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https://www.youtube.com/c/MAMNacional
https://diplomatique.org.br/guilhotina-78-charles-trocate/
https://mst.org.br/2018/12/27/amazonia-sob-nuvens-cinzas-charles-trocate-do-mam-analisa-o-ambiente-de-incertezas/
http://amazonia.inesc.org.br/materias/vale-no-centro-do-conflito-de-terra-em-canaa-dos-carajas/
https://www.inesc.org.br/mineradora-vale-promove-a-intensificacao-do-conflito-fundiario-em-canaa-de-carajas/
https://apublica.org/2012/11/viagem-a-canaa/
https://www.frontlinedefenders.org/pt/profile/andreia-silverio
https://www.brasildefato.com.br/2019/04/12/absolvido-professor-e-processado-de-novamente-pela-vale-por-protesto-em-ferrovia/
https://www.redebrasilatual.com.br/cidadania/2020/07/professor-vence-processo-contra-a-vale-e-reafirma-o-direito-de-protestar/
http://mapadeconflitos.ensp.fiocruz.br/conflito/pa-perversidades-sociais-e-ambientais-no-caminho-da-estrada-de-ferro-carajas/

De Hugo do Nascimento [org.];
Curadoria compartilhada com Luah Sampaio;
Colaboração de Flavia do Amaral;
Versos cedidos por Hugo Caetano;
Revisão de texto de Raphíssima;
Mediação [em Diálogos em Travessia] de Beatriz Ataídio;
Uma realização de Atelier Floresta
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ARKIVOS /DOWNLOADS
Vídeos > https://www.mediafire.com/file/q0vuq11khbopiba/AAZ-BRUTOS.torrent/file
Ebook [.pdf] > https://www.mediafire.com/file/m4fsligpnoj3kd9/Amazônia+Ano+Zero+-+Hugo+do+Nascimento+[org]+-+Atelier+Floresta.pdf/file
Galeria de Imagens > https://www.flickr.com/photos/138572383@N05/albums/72157719988710340

AMAZÔNIA, ANO ZERO
nada
nada

AMAZÔNIA, ANO ZERO

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AMAZÔNIA, ANO ZERO
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AMAZÔNIA, ANO ZERO
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SOBRE PUBLIC_AÇÕES E TERRITORIALIDADES
AGRADECIMENTOS
Aos companheiros e companheiras dos tempos de Amazônia em Chamas e LABCART, ao Movimento Munduruku Ipereg Auy, ao Movimento Xingu Vivo Para Sempre, e aos Guardiões Ka'apor, por todas os aprendizados e vivências partilhadas entre 2010 e 2015. Ao Corpus Urbis, e ao LABCEUS, que me permitiram conhecer outras Amazônias, em especial, a acolhida das Comunidades em Território Indígena Uaça, e as amizades de São Félix do Xingu. A todos que trabalharam diretamente nesse projeto, Luah Sampaio, Flavia do Amaral, Raphíssima, Beatriz Ataidio, ou que colaboraram cedendo materiais ou sugerindo caminhos, Hugo Caetano, Clara Morbach, Sebastian... a toda a Comunidade da Pedra Branca, em Cotijuba, que desde 2019, quando transferi casa e atelier para Ilha, tem me recebido com respeito e carinho.
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ESTE PROJETO FOI CONTEMPLADO NO EDITAL DE LIVRO E LEITURA DA SECRETARIA DE ESTADO DE CULTURA, SECULT, VIA LEI ALDIR BLANC
Conversa sobre processos poéticos-políticos em Amazônia, Ano zero, com mediação de Beatriz Ataidio >>>
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